Rompendo excessos – Celular e mundo virtual

A internet virou terra de ninguém e um “tribunal” aberto onde todos julgam todos. Falamos de tudo, o tempo todo. Cada um de nós, do nosso “mundinho”, com nossos dedos e comentários condenando a vida dos outros, julgando pessoas que não conhecemos e opinando em assuntos que não dominamos. Terra de ninguém e tribunal de júri aberto.

A maior parte do tempo é isso: pessoas julgando pessoas. Pessoas se expondo, cientes de que serão julgadas. Um infinito de opiniões: “eu acho isso”, “eu acho aquilo”. Opiniões... rasas opiniões.

A internet está nos tornando mais julgadores e muito mais injustos: um julgamento superficial, às vezes carregado de pré-conceitos, como se conhecêssemos intimamente alguém ali e tivéssemos total direito de julgar e de sermos tão violentos nas palavras, nos comentários.

Quão injustos e superficiais estamos nos revelando com nossos celulares nas mãos: uma verdadeira arma de ferir corações e vidas, quando mal utilizada.

E todo mundo no mundo virtual sabe de tudo, sobre todo assunto. Todo mundo ali se enxerga como mestres, doutores, entendedores de qualquer assunto.

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Lembra daquele tempo que a gente tava mais preocupado em soprar a velinha, comer o bolo e brincar, do que com a foto que tava sendo tirada? É hora de voltar à essência a aproveitar nossos momentos com coração de criança.

Mas, estamos definitivamente cansados dos tribunais do júri online. Estamos cansados de um ambiente julgador, injusto, raso. Estamos exaustos de todo mundo julgando todo mundo. Estamos exaustos de todo mundo ter que se manifestar sobre tudo o que acontece, o tempo todo.

O mundo não para. Os acontecimentos se espalham numa velocidade avassaladora. E a internet exige posicionamento o tempo todo de quem está no meio. Imagina se nós, a cada novo acontecimento humano, tivéssemos que opinar e nos posicionar? Nem daria tempo de realizarmos nem o básico da vida fora das telas. Mas nossos aparelhos têm sim o perigoso poder de nos engolir e alienar, se não tivermos muita atenção e cuidado.

Estamos cansados dessa “falazada” da internet, de fofoca sobre vida de artista, de especulação sobre tudo, de notícias sobre o que pode acontecer, gerando tanta ansiedade.

Estamos cansados de saber da vida perfeita dos outros, virtualmente, de receber uma enxurrada mental de padrões a seguir: padrões de beleza, de magreza, de cabelo, de estilo... uma enxurrada de métodos disso, métodos daquilo... uma enxurrada mental de ensinamentos, mas sem aprofundamento em nada.

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O abraço verdadeiro só existe no mundo real. Como precisamos disso!

Na internet passamos a acreditar que o certo, o legal, o padrão a seguir são as pessoas magras, bonitas, ricas, “antenadas”, desemboladas, que falam sobre tudo e sobre todos, que estão sempre conectadas, que contam sobre o dia a dia perfeito que vivem, com uma multidão de seguidores etc.

Mas, confesso, meu interesse caminha longe disso: Se tem alguma influência que quero para mim é de gente caridosa, despojada, simples e livre de padrões. Nós precisamos de filtros. Quem nos inspira de verdade? Até quando vamos deixar que qualquer pessoa “perfeita” por fora, mas às vezes com tantos assuntos e atitudes vazios, preencham nosso tempo? Até quando vamos ficar prestando atenção na vida de quem não nos inspira de verdade no que buscamos para nossa vida?

O que o excesso de celular tem me roubado? Já se fez essa pergunta? Já chegou num momento que tomou consciência disso? Como eu poderia estar aproveitando meu tempo se eu não estivesse aqui, navegando nas redes e nas notícias, curiosidades e entretenimentos?

O excesso de celular tem nos roubado saúde mental: O barulho está na rua, na cidade, mas o barulho está, também, no celular. Assim como o excesso de placas, de informações, propagandas, estímulo e luzes. Isso tudo é extremamente cansativo para nossa mente.

Não temos preparo psicológico, físico, emocional para lidar com o inferno que a internet se tornou, para lidar com essa enxurrada de informações. Ninguém tem. Pode ser que tem gente que não percebeu, ainda, o estrago que o excesso de redes sociais têm feito em nós.

Nos afastar dessa realidade é priorizar nossa saúde. O mundo virtual muitas vezes é como entrar em uma avenida com trânsito infernal, com grande poluição e barulho, com faróis, buzinas e pessoas andando para lá e para cá o tempo todo, conversando, gritando, discutindo, impacientes. Entrar na internet é como ir para o centro de Belo Horizonte: pessoas te abordando o tempo todo, de forma que mal você consegue andar, sair do lugar. Precisamos deixar essa via congestionada e buscar uma estrada mais tranquila.

Nos afastar dessa realidade, do excesso das redes, é priorizar nossa saúde.

Com o excesso de celular, perdemos conhecimento, inteligência, capacidade de pensar por nós mesmos, de julgar racionalmente as situações, pois sempre alguém, na internet, nas interações, já “julgou” por mim, já pensou por mim, já tirou conclusões por mim, e eu só preciso concluir “curtindo”, dando meu “joinha”, meu “gostei”, ou, o contrário, dando meu “deslike”. Nossa capacidade de desenvolvimento dos nossos próprios pensamentos temos terceirizado para os influencers.

Com o excesso de celular perdemos muitas oportunidades: Conversamos muito virtualmente e, muitas vezes, superficialmente. Perdemos o precioso tempo de conversar pessoalmente, com encontros reais, com conversas reais, olho a olho, sentindo as pessoas em sua verdade, abraços reais, sabores e sensações reais.

Podemos estar conectados a tudo o que acontece no mundo, por dentro de tudo que se passa. Mas isso não significa nada, não tem valor algum, se não estivermos profundamente conectados conosco mesmos, com nosso interior, distraídos do que se passa conosco.
Aqueles que falam que não vão entrar porque a água tá muito fria, mas se animam depois da cerveja kkkk. Que sempre possamos sorrir além das telinhas dos celulares

Com o excesso de celular perdemos a capacidade de foco, de concentração com toda a dispersão das ofertas, notícias, propagandas. Somos bombardeados de estímulos que tiram nosso foco e produtividade. Cansamos a mente, sem, muitas vezes, não realizar nada de útil.

Podemos estar conectados a tudo o que acontece no mundo, por dentro de tudo que se passa. Mas isso não significa nada, não tem valor algum, se não estivermos profundamente conectados conosco mesmos, com nosso interior, distraídos do que se passa conosco.

Podemos estar conectados a tudo o que acontece no mundo, por dentro de tudo que se passa. Mas isso não significa nada, não tem valor algum, se não estivermos profundamente conectados conosco mesmos, com nosso interior, distraídos do que se passa conosco.

Às vezes tenho a impressão de que os celulares estão literalmente nos tornando um avatar, um personagem do mundo virtual, que só existe ali, bem distante da realidade. Talvez seja o momento de nos auto regular, nos ausentando do mundo virtual e gerindo a quantidade do uso de celular, principalmente para quem tem essa possibilidade, pois tem pessoas que trabalham com isso. Mas, para nós que temos a possibilidade de escolha, talvez tenha chegado o momento de controlarmos o celular, antes que ele nos controle.

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Escolher nos esvaziar do celular é escolher dois dons preciosos: tempo de vida e liberdade. Escolher nos ausentar, nos desconectar é escolher por nossa lucidez.

Não é necessário estar toda hora online. Sabemos disso. Não precisamos responder imediatamente as mensagens que recebemos, não podemos continuar cedendo à pressa e às ansiedades não urgentes de todos os que nos mandam mensagens. As pessoas precisam saber esperar. Nós precisamos aprender esperar. Se for alguma urgência, a pessoa irá nos ligar.

Nos ausentar do celular, das redes, das mensagens irá nos ajudar a estarmos presentes com qualidade quando estivermos. Nos ausentar e dar um tempo para nossa mente e nosso coração nos ajudará para que, quando voltarmos ao contato, nossa presença será de mais qualidade, mais verdade, com energia, inteireza, com vontade honesta de responder, de estar ali, com boa disposição.

Precisamos recuperar esse precioso tempo que temos perdido no celular. Deixe ir o estresse de estar sempre conectado; deixe ir a pressão de ter que responder rápido; deixe ir a ansiedade por respostas rápidas; deixe ir a angústia de ter a sensação de que a vida dos outros anda enquanto apenas assistimos sem sair do lugar.

Precisamos deixar ir coisas, visualizações, pessoas, contatos superficiais, canais, seguimentos... pois não está cabendo mais nada dentro de nós, de nossas cabeças. Não está sobrando energia, tempo, disposição para nos dedicarmos ao que realmente importa.

Nossas mentes estão sobrecarregadas, sem espaço algum, pois o espaço já está ocupado pelo congestionamento do celular, se enchendo de absolutamente nada. Estamos nos preenchendo de nada, de vazio.

Escolher nos esvaziar do celular é escolher dois dons preciosos: tempo de vida e liberdade. Escolher nos ausentar, nos desconectar é escolher por nossa lucidez.

É hora de renunciar: Renunciar às fofocas virtuais. Renunciar a saber de tudo, de todos. Renunciar aos “grupos de julgamento online”. Renunciar à necessidade de comentar, de dar opinião na vida dos outros sem ser solicitados. Renunciar a ser um avatar, um personagem virtual.

Deixe ir o estresse de estar sempre conectado; deixe ir a pressão de ter que responder rápido; deixe ir a ansiedade por respostas rápidas; deixe ir a angústia de ter a sensação de que a vida dos outros anda enquanto apenas assistimos sem sair do lugar.

Por que nos importamos tanto? Por que nos importamos com a opinião de quem nem conhecemos, de quem nem faz parte da nossa vida? E o contrário também: no meio dessa loucura, quem está aí para nossa opinião? Quem se importa com o que temos a dizer? Ali somos apenas número de likes, visualizações e comentários. Ali somos números e essa é nossa única importância ali.

Acredito que nós só nos realizamos de verdade é fazendo coisas reais, vivendo coisas reais.

A maioria daqueles que amamos estão próximos de nós no dia a dia. Tomara que seja assim com você também. E é isso que precisamos valorizar: a presença. E, quando quem amamos morar distante de nós, precisamos nos esforçar para que o celular seja um aliado: ligue, faça chamada de vídeo, converse com qualidade, busque uma comunicação mais humana, mais acolhedora possível.

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Na pandemia de covid pudemos experimentar a dor das ausências e a alegria do reencontro. Que jamais nos esqueçamos disso e aproveitemos a vida muito além das telas.
Acredito que nós só nos realizamos de verdade é fazendo coisas reais, vivendo coisas reais.

É o que desejo, é o que importa. Não quero passar a vida vendo os outros vivendo, eu quero é viver também. Não quero ficar com o celular na mão vendo as pessoas sorrirem, viajarem, se encontrarem... eu quero é ir e fazer isso também, fazer o que importa para mim. Chega de assistir a vida dos outros, quero experimentar é o pulsar da minha própria vida.

O celular muitas vezes nos tira de nós, reduz nossa produtividade, afeta nosso maior potencial, nos rouba de nós mesmos. O celular nos distrai de nossas obrigações e nos deixa para escanteio. Às vezes é uma fuga que temos, fuga de pensar o que precisamos pensar, de fazer o que temos que fazer, de enfrentar o que devemos enfrentar, de viver o que necessitamos viver.

O celular nos deixa para depois, passamos a não ser nossa própria prioridade. O celular nos conecta superficialmente com as pessoas e com o mundo, mas nos desconecta de nós mesmos. Deixamos de observar coisas, fugimos de nós mesmos, do nosso interior, dos nossos conflitos. Fugimos, com a ajuda de celular, das respostas que precisamos dar, de realidades que precisamos enfrentar.

O excesso de celular nos conduz a uma vida de ilusão, uma realidade paralela. E, quando voltamos, nos resta ansiedade, angústia, solidão e esvaziamento (não se pode aproveitar quase nada ali, daquele tempo dedicado a um mundo irreal).

Você também sente, às vezes, que está numa espécie de relacionamento doentio, descontrolado, com seu celular? Então é hora de dar um basta.

Quero dar espaço para mim, para minha vida. E nada de respostas prontas. Chega. Os influenciadores, e quem mais quer que seja, não vão responder por mim. Basta de as pessoas pensarem e julgarem por mim. Quero tirar minhas próprias conclusões, formar meu próprio parecer e opinião. Quero eu mesma ler o livro e decidir o que achei dele. Só eu mesma me represento, ninguém me representa, ninguém fala eu meu nome, eu mesma falo por mim, eu mesma penso por mim, sou minha própria representante.

Basta dos celulares nos roubarem de nossa própria presença. Quantas vezes estamos num lugar, com alguém, mas não estamos de verdade? Nosso corpo está ali, mas nossa atenção e nossos pensamentos estão no celular. Chega do celular nos roubar nossos momentos reais. É hora de uma decisão na nossa vida, de estarmos presentes com qualidade, com liberdade, não pelas metades.

É hora de decidir viver as coisas, os momentos, com o coração, momentos incríveis, com pessoas incríveis. Que o celular não seja mais o protagonista. Ele seja apenas o que ele é: um objeto, um aparelho, que pode registrar, nos ajudar a guardar na memória nossos momentos reais. Chega de mostrar tudo em tempo real. Viva aquele momento. Tire as fotos, filme e guarde o celular. Não é hora de interagir com quem está online, é hora de interagir com o lugar que você está e com quem está do seu lado.

Reduzir o tempo dedicado ao celular nos dará mais espaço, mais tempo para nos dedicar a momentos de observação mais pura, de escuta, de solidão e de encontros também. Investir em convivência saudável com as pessoas do mundo real. E espaço para o enfrentamento de coisas que já eram para ter sido enfrentadas, refletidas e, talvez, decididas.

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Sair um pouco das telas para entrar dentro de si

Reduzir o tempo de celular nos dará mais tempo para aprofundar num tema, numa profissão, estudando de verdade, com dedicação, para sermos realmente bons em algo. O celular tem roubado a qualidade de nossos estudos, de ultrapassar a superficialidade de temas.

Desistir de comentar sobre tudo e sobre todos, nos trará mais quietude, mais paz, reduzindo ansiedades. Tantas teorias surgem e se espalham pelos nossos celulares, gerando tanta preocupação e angústia totalmente desnecessárias. Desista de saber de tudo e de todos. Realmente pense no que é importante saber, o que é relevante, assuntos realmente sérios, e, ainda assim, separe um tempo para isso, não se afogue mais no mar da internet.

Reduzindo o excesso de celular, poderemos refletir melhor sobre as situações, nos corrigindo sobre aqueles julgamentos tão injustos e precipitados que fazemos sobre as pessoas, além de nos reeducarmos para sermos menos reativos, menos agressivos em nossa comunicação.

Para termos paz precisamos romper com a necessidade de dar opinião para quem não pediu nossa opinião. A internet tem nos deixando chatos demais. Pensamos que sabemos tudo, que estamos aptos para instruir a vida de todo mundo. Não é assim. Estamos perdendo o bom senso. Queremos falar, falar, falar... julgar, julgar, julgar... Basta. Isso não é saudável para nós e nos distancia cada vez mais das pessoas.

Reduzindo o uso do celular, nós poderemos prestar mais atenção em nós, nos observar realmente, por dentro e por fora, reconhecer o que está acontecendo em nosso mundo interior e dar espaço para nosso cuidado, dar espaço para nós mesmos, para nossas reflexões, sem influências. Se não cuidarmos de nós mesmos, ninguém fará isso por nós.

Quando acordar, se possível, fique um tempo em silêncio. Tome seu café, alongue-se. Seu primeiro momento seja com você e com quem está com você. Seja atendo à vida que renasce. Não deixe que o celular te roube prazeres simples e cotidianos.
Faça a experiência de encontrar seus amigos fora do celular e de irem sentir a vida juntos

Observação: reconheço os vários benefícios do celular, da internet, das redes, pois eu não estou aqui para demonizar tudo isso, mas para compartilhar os riscos dos excessos. Mesmo assim, eu confesso que eu era muito mais livre sem esse bendito celular na mão. Eu tinha mais qualidade, mais profundidade nos relacionamentos e comigo mesma. Estou buscando resgatar isso.

Sem o bendito celular na mão eu tinha mais paciência em ouvir e conviver com as pessoas. Eu não tinha medo das pessoas, eu não tinha medo de acolher, de dar um abraço. A internet enfatiza muito o mal, são as más notícias, que dão mais ibope. Muitos canais usam a desgraça de forma sensacionalista. De qualquer forma, as mídias têm um trabalho importantíssimo, não estou aqui querendo focar nisso, pois tem canais muito sérios e respeito muito o trabalho de todos.

A questão é que o excesso (sempre o excesso) de notícias, de informações, têm feito um serviço importante de nos comunicar e alertar, mas, ao mesmo tempo, tem nos deixado com medo de tudo e de todos. Além disso, estamos nos acostumando ao mal, nos acostumando com as dores do mundo: uma notícia nos sensibiliza muito, mas logo vem outra na sequência e a gente nem se lembra mais.

Somos sim sensíveis, mas estamos nos tornando telespectadores da dor do outro. Pouquíssimo fazemos de concreto para ajudar. Estamos tentando enganar nossa consciência pensando que “curtir”, “compartilhar”, “divulgar”, já é o suficiente. Porém, a ajuda real, concreta, não tem sido tão efetiva.

Nossos dedos, nossas mãos, sentem as telas geladas e as cenas distantes. Vislumbramos amigos, conhecidos, parentes, viajando, aproveitando a vida. Ficamos ali assistindo. Assistimos pessoas saudáveis com várias dicas, compartilhando seus exercícios. Nós ali sentados, assistindo, meros espectadores da vida dos outros.

Basta, não é? Eu não quero, e sei que você também não quer mais: Não quero mais assistir a vida de ninguém. Eu quero é sentir, tocar, estar nesses lugares, comer aquelas comidas, tocar aquele chão que estou vendo na tela, nadar naquelas águas, respirar o ar daquela paisagem. Eu quero andar descalça na terra, sentir a água gelada da cachoeira, ouvir o som das ondas quebrando na praia.

E queremos recuperar nossa simplicidade. Se financeiramente ainda não podemos ir a outro país, vamos conhecer a cidadezinha do lado, com a alegria do coração. Se não podemos ir longe, vamos perto mesmo. Se não podemos ir a lugares caros, vamos comer um pastel, um pão de queijo com nossos amigos. O que importa não é onde, não é o que; o importante é com quem estamos e se é real, se é de coração. Podemos viver, aproveitar com o que temos hoje, não com o que teremos amanhã.

Se não temos hotel, resort, muitos temos o sol batendo na janela do nosso quarto e podemos sentir. Ou a brisa da chuva. Se não temos paisagens paradisíacas, temos uma Praça, um Parque, um jardim na nossa cidade; uma estradinha, uma roça e qualquer lugar onde possamos tocar na natureza, tocar a vida.

Uma das minhas maiores amizades nasceu e cresceu sem dependência de celular. Sem exigências e comparações; sem pressões e cobranças; só a alegria e a simplicidade do encontro.

O que importa não é onde, não é o que; o importante é com quem estamos e se é real, se é de coração. Podemos viver, aproveitar com o que temos hoje, não com o que teremos amanhã.

Mesmo se nosso celular (que vamos deixar mais de lado) nos exibe passeios muito mais legais, busquemos um coração de criança, que deslumbra tudo pela primeira vez. Precisamos aprender a ver as paisagens mais simples, como se fosse a primeira vez, sem comparações, pois tem um pedacinho da natureza em todo lugar, principalmente se olharmos para o céu.

Até quando nosso relacionamento com nosso celular vai nos roubar tempo e vida? Até quando a imensidão de imagens virtuais vai nos tirar o gosto, a simplicidade do que é real e que podemos tocar, saborear?

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Deitar-se só, ou com nossos amigos, nossa família... na grama, na areia, ou mesmo num sofá... despreocupadamente... É preciso relaxar mais e dar novas luzes para nosso olhar e novos ares para nossa alma.

Uma gostosa recordação: Lembro quando eu fui para as missões franciscanas. Eu saí da casa dos meus pais, era apenas uma menina, uma jovenzinha. Era fofa, meiga e quieta, apesar de ser aventureira e amar conhecer o mundo.

Era tudo novidade para mim. Eu admirava tudo e todos. Meus olhos estavam vendo tantas coisas pela primeira vez, eu era tão simples, tudo era tão grande para mim, tudo me impressionava, tudo me encantava. Eu não tinha exigências. Eu era tão grata por cada nova paisagem, cada nova realidade, cada nova missão, cada nova estrada.

Essa simplicidade eu quero resgatar e convido você a fazer o mesmo. Precisamos parar de perder oportunidades de nos divertir devido ao nosso grande padrão de perfeição e de exigências. Para nós, que estamos exigentes demais, tudo tem que ser perfeito, tudo tem que estar nas circunstâncias ideais, senão não queremos, senão reclamamos.

Mas, lembre-se, para a simplicidade das crianças, tudo é novo, tudo é curioso, tudo pode servir de diversão. Se nosso coração está pequeno, fechado, exigente demais é porque perdemos a simplicidade e a gratidão das crianças.

Se nosso coração está pequeno, fechado, exigente demais é porque perdemos a simplicidade e a gratidão das crianças.

E como está nossa conexão com nós mesmos? Estamos muito dispersos de nós mesmos. Nos conectamos com todos, mas não estamos conectados a nós, não estamos prestando atenção e nos relacionando devidamente com nós mesmos. Nem nos conhecemos mais. Conhecemos cada vez mais pessoas nas redes, mas nos desconhecemos cada vez mais. Somos dispersos, ausentes e desconhecidos para nós mesmos e por isso nossas vidas estão virando um caos.

Quero me reconectar com aquela menina simples, de pé no chão, descabelada e feliz. Me encontrar comigo, com aquela menina leve, destemida, grata, sem grandes exigências, admiradora de tudo, silenciosa e profunda. Quero me reconectar com aquela jovenzinha do interior, que sabia ouvir, que não estava cansada das pessoas, que mal conhecia um celular e tinha toda energia e disposição para conviver, curiosa para conhecer o mundo inteiro.

Minha prioridade, minha escolha é me relacionar comigo, é ser simples e viver de verdade, com mais liberdade, com mais essência, sem comparações e padrões.
Melhor que visualizar, que dar like, é abraçar, é tocar.

Quero me reconectar comigo, reviver a simplicidade, resgatar a doçura, a gratidão, a grandeza de um coração aberto e vazio, cheio de espaço para descobertas, de malas vazias, sem peso de bagagens.

Hoje eu “abro mão” do excesso de celular. Eu revejo e mudo meu relacionamento com ele, porque minha prioridade não é ele. Minha prioridade, minha escolha é me relacionar comigo, é ser simples e viver de verdade, com mais liberdade, com mais essência, sem comparações e padrões, sem as influências das opiniões de tantas pessoas que eu nem conheço.

Hoje eu escolho a liberdade e a paz, sem a necessidade da aprovação das curtidas e das visualizações. Eu espero, de coração, que você faça isso por você também.

Muito obrigada pela presença e pela leitura! Texto de Patrícia Natália Blog Natureza da gente.