Reflexão sobre Consumismo

A Terra é nossa casa comum e todos nós, que habitamos nela, estamos ligados de alguma forma. Nós, seres humanos, uns com os outros, com os animais, com a natureza inteira, dividimos o mesmo espaço, em diversos contextos.

Mesmo que vivamos geograficamente separados, o nosso estilo de vida e as nossas escolhas podem afetar outros seres humanos e outras espécies, beneficiando ou impactando negativamente.

Somos parte do todo e compartilhamos a existência e a sobrevivência. Todos precisamos cuidar dessa casa comum, cada um assumindo e cumprindo seu papel para que a vida se mantenha e se renove e a natureza tenha seu tempo de nos fornecer os recursos necessários para nossas necessidades, nossa sobrevivência e das futuras gerações.

Essa casa comum não é só do ser humano: nós a dividimos com muitas outras espécies e precisamos considerar a justiça e o respeito à biodiversidade.

Precisamos refletir sobre nossa mentalidade de consumo. Nosso consumo em relação aos vestuários, cosméticos, alimentação, celulares, móveis, carros, etc. O que temos comprado e consumido? Como e onde temos feito essas compras? E como são nossos padrões de consumo e nossos hábitos?

O que chega até nós pode ter percorrido grandes distâncias e realidades. A maioria das coisas que usamos foram produzidas geograficamente longe de nós. Você já se perguntou quem produziu e como produziu uma roupa para que hoje você pudesse usar?

E aquele preço bem barato de suas peças, de seus produtos…Você já considerou o porquê de muitas vezes a indústria conseguir vender produtos por um preço tão atraente?  Você já pensou na possibilidade de alguém estar pagando esse preço, para baratear o produto final, talvez de uma forma injusta?

Precisamos despertar para uma visão mais universal, mais humana e fraterna. Não é só nossa família, e quem amamos, que devemos levar em consideração em relação a viver na justiça. Precisamos abrir nossa mente e nosso coração para o espírito de fraternidade com todo ser humano e com toda a criação de Deus.

Conceituar justiça pode parecer subjetivo, pois existe em nós percepções sobre justiça muito particulares. Entretanto, a justiça não se sustenta sozinha e sempre vai envolver o coletivo, as leis e os valores comuns. O que afeta a dignidade humana, o que causa dor, sofrimento e miséria para sustentar o alto padrão dos demais, não pode ser justo.

“O que afeta a dignidade humana, o que causa dor, sofrimento e miséria para sustentar o alto padrão dos demais, não pode ser justo”.

Você pode estar pensando enquanto lê:

“Eu não posso mudar isso, não consigo mudar o mundo, nada que eu fizer fará diferença. Eu não tenho culpa de nada disso”.

Ou, podemos até sentir certa indiferença e individualismo com realidades que não nos afetam:

“Isso não é da minha conta. Desde que eu esteja comendo, bebendo, vestindo, conseguindo ter as coisas que eu quero, satisfazendo minhas vontades, minhas ambições de consumo, já está tudo certo e é isso que importa. Eu corro atrás do meu, os outros corram atrás dos deles, pois não está fácil para ninguém.”.

Mas, se você é uma pessoa que está buscando evoluir como ser humano, se você acredita que somos todos irmãos e que devemos fazer nossa parte para que todo ser humano viva com dignidade, com justiça, então, você precisa buscar entender como funcionam as cadeias produtivas, a origem do que você compra, e de que forma seu consumo, seu estilo de vida está impactando a vida de nossos irmãos e a capacidade de renovação dos recursos naturais.

Nós realmente precisamos de tanto? Precisamos comprar ainda mais? Precisamos ter cada vez mais?

Uma das frases que mais me marcou sobre o que o dinheiro não pode comprar e sobre o que coisas materiais não podem fazer por nós, é uma frase de Anne Frank, em seu diário. Anne foi uma jovenzinha que morreu vítima do terror do Nazismo.

Em seu diário, num contexto em que estava fugindo com sua família para um esconderijo, ela precisaria selecionar pertences para a partida, no pouco espaço que teria.

Ela escolhe algumas coisas que eram especiais para ela, que lembrava momentos felizes, que lembrava seus amigos e a vida que amava. Ela levou cartas, cartões postais… E o pensamento que ela registra, naquele contexto, em seu diário, é muito marcante e uma lição para nós: ela afirma que suas memórias e recordações, valem muito mais que vestidos.

Realmente precisamos de tanto consumismo? Precisamos sempre de mais coisas? Ou precisamos é passar a investir mais nas memórias e nos momentos com quem amamos?

Podemos pensar que excessos consumo só atingem a nós mesmos. O que já seria relevante, pois o consumismo pode nos tornar pessoas que vivem apenas para satisfazerem as próprias necessidades, focadas em ter coisas: uma vida voltada para ter cada vez mais. Mas o consumismo não atinge só a nós mesmos.

Para sustentar nosso consumo, a indústria precisa produzir sempre mais, em velocidade maior, pois a ansiedade do ter é tão grande que tudo parece ser urgente, nada pode esperar.

E para produzir mais, e nessa velocidade, é necessário mais recursos e esses recursos vem da natureza e são finitos.

Sol, água, ar, solo, vento, chuva… precisamos de tudo isso bem mais do que precisamos de blusas, bolsas, sapatos, cremes, maquiagens… mais do que precisamos trocar de carro, de móveis e aparelhos eletrônicos de novo, de novo e de novo…

Claro, também precisamos de tudo isso, do material. A crítica não está em ter as coisas necessárias para nos sentirmos bem e confortáveis. Porém, devemos e precisamos ter e adquirir coisas, sempre considerando a consciência coletiva, a fraternidade e os recursos naturais.

Pense, sinceramente: é realmente necessário um novo celular porque você enjoou do seu, ou porque surgiu um lançamento, superior em algum detalhe? É realmente necessário? Ele está funcionando? Ele te atende nas necessidades?

Vale mesmo a pena? Por vaidade, desejo ou status… vale mesmo o custo humano e ambiental para comprar o que não está precisando verdadeiramente?

Você pode estar aí me respondendo:

“Eu trabalho é para isso mesmo, eu que pago, eu trabalho demais é para ter o que gosto…eu mereço me presentar… etc…”.

Mas ainda assim eu te convido a refletir. Cada novo celular produzido consome montanha, solo, água… Não só eletrônicos, mas tudo que usamos e vestimos. E, pior: existem muitos casos de trabalho análogo à escravidão envolvendo grandes produções e marcas, para você pagar um preço mais atrativo.

Cadeias de produção precárias, com salários injustos, saúde do trabalhador ameaçada por doenças, pragas e insalubridade. Situações que afetam crianças e populações, contaminação das águas com metais pesados, fontes de tantas doenças. Um ciclo desumano para que você possa comprar mais essa roupa, mais essa bolsa, mais esse tênis…

Claro, não são todas as marcas e nem são todos os produtos que recebem ou receberam esses tipos de denúncias. Mas é preciso estarmos cientes que existe essa situação e considerar que, mesmo que demos preferência a marcas e lojas confiáveis, o ideal é reduzir o consumo.

Esses dois importantes passos na mudança de mentalidade: redução do consumo, e, quando for comprar, dar preferência a Lojas que estejam comprometidas com a justiça no trabalho e com a redução dos impactos ambientais.  

Para ampliar a consciência dos riscos socioambientais, da produção da moda, por exemplo, convido vocês a assistirem o documentário “O verdadeiro custo” – “The true cost” – Você sabe o verdadeiro custo do que consome?

Esse documentário é fácil de ser encontrado, no Youtube, por exemplo, e retrata o outro lado da indústria da moda, com informações sobre impactos ambientais, sociais e de saúde pública, além de expor situações de trabalho análogo à escravidão, envolvendo a tantos seres humanos, especialmente em países subdesenvolvidos, bases da cadeia de produção.

Esse documentário é excelente para nos colocar cientes de que podemos estar participando desse sistema e somos desafiados a refletir e enfrentar nosso padrão de consumo, despertando para uma visão mais fraterna e universal.

Repetindo o nome do Documentário: “O verdadeiro custo” – “The true cost” – Você sabe o verdadeiro custo do que consome? Assista no Youtube. Já encontrei lá para assistir gratuitamente. Só pesquisar por esse nome. Sem dúvidas será um divisor de águas na sua vida:

Até mesmo no campo da espiritualidade. Por exemplo, no meu caso, que tenho a fé católica, o consumismo, os excessos, diante de Cristo, do Evangelho, são uma grande contradição, já que a pregação de Jesus nos direciona sempre ao outro, a pensar no outro, no coletivo, em cada ser humano.

A pregação de Jesus é sempre voltada para a bondade, para a generosidade, a fraternidade, a partilha e a unidade entre os seres humanos. Ele enfatizou muito o perigo do consumismo, dos excessos do ter, do acumular, do ajuntar riquezas, etc.

É, sem dúvidas, uma contradição, uma incoerência e uma grande incompatibilidade buscar seguir o Evangelho e ter uma vida de excessos, de acúmulos, de foco no ter mais e mais. São caminhos opostos.

O consumismo pode estar presente em várias áreas da nossa vida.

“Mas eu quase não compro roupa, eu tenho poucas roupas”…

Mas, te convido a se auto examinar. Você pode não ser consumista para si, mas… Como tem educando seus filhos? Tem conversando com eles sobre isso? Você tem enchido eles de coisas, cada vez mais coisas, de tudo o que eles pedem? Está formando-os para serem responsáveis e conscientes sobre o consumo, sobre o excesso de materiais, de roupas, de brinquedos, de calçados, de eletrônicos?

E sua casa? Vocês cuidam para que as coisas durem? Vocês reaproveitam, reinventam, para não precisar sempre ficar trocando de móveis, de utensílios? E os celulares? Com que frequência você troca: Quando realmente precisa? E os produtos, cosméticos? E o desperdício de alimentos? E a água, a luz… você presta atenção no uso, ou deixa tudo ligado, tudo aceso, o tempo todo?

É importante uma reflexão analisando cada área da vida, prestando atenção em todas as nossas formas de consumo. É preciso refletir sobre nosso senso de justiça.

É preciso saber se a roupa que visto, se o sapato que calço, se o acessório que coloco no pescoço, se o creme que passo na pele está sendo às custas do sofrimento de alguém e da injustiça sobre alguém.

Se para eu ficar mais bonita, alguém está perdendo a saúde; se para eu estar bem-vestida, alguém está tomando água contaminada com resíduos de tingimento de tecido; se para eu ficar estilosa com uma bolsa, alguma criança está mais longe da possibilidade de estudar… Vale o preço?

Não que eu vá conseguir resolver os problemas das injustiças e das desigualdades do mundo; não que eu vá salvar a natureza, os recursos e todas as espécies em ameaça de extinção do planeta; não que eu vá conseguir acabar com a fome e o desemprego.

Mas, eu posso resistir, no que estiver ao meu alcance, de compactuar com um sistema tão cruel, tão injusto, tão desumano de consumismo, de produção, que é um custo alto para vida de tantos.

O que estiver ao nosso alcance.

E como ter uma vida diferente? Como ter um estilo de vida e de consumo mais justos, que considere o ser humano e os recursos naturais? Quais passos eu posso dar?

Primeiramente, entender que consumismo, excessos, ter sem necessidade e querer cada vez mais, não é saudável nem para você, nem para ninguém, nem para os recursos naturais. E assumir que sempre temos uma escolha de comprar sem necessidade ou não.

… participar desse ciclo é também uma escolha, porque você escolhe o quanto e onde comprar”

Se libertar do consumismo vai elevar sua energia, te direcionar ao que realmente importa. Se libertar do consumismo vai te tirar pesos e ampliar seu interesse para coisas mais profundas que nada nem ninguém pode tirar.

A economia que você pode ter ao não comprar coisas desnecessárias você poderá investir em passeios, em encontros com amigos para um café, em livros, cursos e em conhecimento, em boa alimentação, em atividades físicas e algum esporte.

Trabalhe sua mente sobre compulsão e consumismo, levando esses temas para suas reflexões mais sinceras, buscando despertar para um novo estilo de vida.

O excesso de compras, a necessidade de mudança a todo momento, pode esconder problemas interiores, que precisam ser enfrentados e solucionados.

E quais atitudes concretas você pode começar a ter para se libertar do consumismo, dos excessos?

Dica número 1: Listar o que, e em qual quantidade você realmente precisa das coisas.

Claro, isso varia de pessoa para pessoa. Ninguém poderá responder por você sobre o que você precisa ou não precisa ter e comprar. Com sua consciência e sinceridade consigo mesma, a partir do conhecimento de si e do seu contexto, liste o que você precisa ter para satisfazer realmente suas necessidades.

Faça a lista do que realmente precisa, considerando o que já tem e o que ainda precisa adquirir para atender suas demandas. E, na hora de comprar, tenha foco: compre o que realmente precisa e pronto, mesmo que tenha outras mil ofertas de coisas baratas e interessantes. Pense no vestuário, na casa, na higiene, nos eletrônicos, no autocuidado…etc.

Dica número 2: O bazar.  

Dê uma chance para o bazar, para a troca e a circulação de peças. Se você tem essa possibilidade perto de você ou acessível, visite um bazar, faça essa experiência, visando o reaproveitamento, a circulação das peças.

Existem também grupos de compra e venda de produtos usados na internet, como OLX, entre outros, onde você vende e compra produtos usados de diversas categorias.

Dica número 3: Dê uma segunda chance às roupas

Reformas, customização, costuras. Sempre que possível, dê preferência a reformar do que descartar para comprar mais. Tem ótimas costureiras por aí, para fazer algum reparo, apertar, cortar, fazer um vestido virar uma blusa; ou uma calça virar uma bermuda; ou consertar um botão, um zíper, etc.

Você mesma também pode fazer customização de suas peças: acrescentar umas tachinhas ou franjas em bolsas antigas para deixá-las mais modernas, customizar blusas, calças…etc. Na internet tem uma variedade enorme de ideias e passo a passo para o aproveitamento das peças que estão paradas ou antigas.

Essa dica vale também para o reaproveitamento de móveis, madeiras, plásticos, caixas, vidros, etc. Sempre existem muitas ideias e dicas na internet para incentivar o reaproveitamento e fazer coisas velhas virarem novas ou ganharem outros sentidos e funcionalidades.

Dica número 4: Conheça a si mesma

Investir no conhecimento de si, dos seus gostos, do seu estilo, das cores que te valorizam, dos modelos que favorecem seu arquétipo, seu formato de corpo, ter as peças e acessórios que tem a ver com seu estilo e realmente fazem você se sentir bem.

Esse autoconhecimento irá trazer praticidade, satisfação e organização com o que você tem ou precise ter. Você vai passar a focar no que combina com você, e não com os outros, se libertando de tantas influências e padrões da moda.

Se você realmente conhecer seu estilo e o que te valoriza, você vai ser menos vulnerável aos movimentos das propagandas, além de ser menos influenciável pelo gosto e estilos de outras pessoas, entendendo que você precisa tirar os olhos dos outros e olhar o que funciona com você, o que combina com você, o que realmente valoriza sua beleza natural e sua essência.

Isso vale também com sua decoração, sua casa, tudo o que envolve seu consumo. Conheça seu estilo, conheça você mesma.

Não continue comprando coisas que você não vai usar, que você experimenta, vê nos outros, mas chega em casa e fica lá, parado, porque não combina com você. Muito cuidado com os impulsos.

Dica número 5: Tenha o suficiente, mas invista em qualidade

Tenha apenas o suficiente, mas que sejam peças boas, duradouras, que harmonizem entre si, com cores e modelos que conversem.  Busque esse conhecimento para um guarda-roupas inteligente e prático, onde tudo praticamente combine com tudo. Que suas coisas sejam “sua cara”, que você ame usar.

Esteja satisfeita com o que tem. Se você tem o suficiente, e ama o que tem, não terá dificuldades para combinar looks para qualquer momento que venha, para todos os seus contextos sociais. Aquela lista da dica número 01 vai ajudar nisso.

Dê preferência a peças com qualidade, mesmo que precise investir um pouco mais. Roupas, móveis, calçados, etc., de qualidade melhor, vai durar mais tempo, mais vida útil, gerando menos resíduos e evitando a necessidade de logo ter que comprar de novo.

Dica número 6: Pare de se vestir para os outros. Definitivamente.

Pare de comprar e de fazer qualquer coisa pensando no que os outros vão pensar. Pare de deixar que as influências dos outros, dos artistas, das modelos, das propagandas, e de quem quer que seja, influenciar o que você veste e usa.

Liberte-se da opinião dos outros sobre seu estilo, sobre sua beleza, sobre seus gostos. Se você for você mesma, mesmo que todo mundo estiver usando algo, você estará feliz com seu estilo e com seu guarda-roupa, não terá necessidade de comprar o que não precisa só para se adequar, ou para “estar na moda”.

As tendências não importam se você tem o que precisa e ama o que tem. Voltando na dica número 4, se você se conhece, se você é feliz com você mesma, e o que você tem é “a sua cara”, então, não importa a opinião dos outros, você se veste para si, a sua casa é arrumada para agradar você, o seu celular é para seu uso…

Ah! Liberte-se do medo de repetir o uso das mesmas peças: “ela estava com essa mesma roupa naquele casamento, naquela festa…”. Se você gosta, se tá limpo, vista, use um milhão de vezes… e foda-se o olhar e o pensamento dos outros.

Liberte-se do olhar e do gosto dos outros, das redes… Isso vale para tudo na vida, não só roupas. Liberte-se do peso da moda e dos padrões.

Dica número 7: Abra os armários e não fique com coisas paradas que não usa.

Doe o que está bom, mas que você não usa. Descarte ou reforme o que não está bom e que está lá parado. Não fique na sua casa, na sua vida, com coisas paradas, que você não usa, que não te cabem, que não combinam com você. Liberte-se da mentalidade do “algum dia vou usar, algum dia vou precisar”, se você sabe que não vai.

Abra seu guarda-roupas, seu armário. Dê uma volta pela casa e desapegue, desacumule. Deixe a liberdade entrar: a liberdade de uma vida sem excessos. Se você começar a se libertar de “coisas”, da necessidade de ter mais e mais, se você der passos para ter menos, com mais qualidade no que tem, isso vai passar a fazer parte de sua mentalidade, não só de consumo, mas para sua vida.

A partir da liberdade de uma vida sem excessos, sem excessos no ter, do consumir, você vai notar a liberdade de necessidades interiores de coisas e situações que não tem fazem bem… vai ser mais fácil abrir as janelas, as gavetas da sua vida e deixar ir o que não cabe na sua vida, o que não te faz bem.   

Dica número 8: Quando precisar comprar, escolha bem as marcas e lojas.

Vamos reforçar aqui que o importante é a mudança de mentalidade consumista, evitando comprar coisas sem necessidade. Mas, claro, hora ou outra precisaremos comprar. A dica é: se precisar comprar, seja o que for, dê preferência a lojas com políticas de produção transparentes.

Pesquise sobre a cadeia de produção das marcas e lojas que você costuma comprar: de onde vem o produto, se a loja, a marca, tem compromisso com responsabilidade socioambiental, se a loja tem alguma denúncia de envolvimento, em sua produção, com qualquer situação que viole os direitos humanos.  

Dica número 9: Faça uma lista pessoa das suas Lojas e marcas de confiança ou a serem evitadas

Complementando a dica número 9, faça sua lista pessoal das marcas e Lojas, dos diversos ramos, que têm compromisso e transparência com as questões dos recursos ambientais e com a dignidade humana, com a justiça e os direitos trabalhistas, desde as bases de produção, para que, quando precisar, você já saiba onde realizar suas compras.

Não é uma missão tão difícil. As próprias marcas têm interesse em divulgar as boas ações em seus sites, estará sempre disponível e exposto amplamente as iniciativas benéficas nas páginas dessas marcas.

E uma outra lista, de Lojas e marcas a evitar, por denúncias de injustiças e escândalos envolvendo questões de precariedade no trabalho e de degradação ambiental e, também, envolvendo constrangimento de funcionários, racismo, machismo, preconceito, intolerância, discriminação, homofobia, xenofobia e tudo o que fere a dignidade de cada pessoa: Fuja de marcas e lojas que reproduzem ou minimizam o desrespeito e a violência.

Uma incômoda e importante reflexão:

Você é uma pessoa que consegue continuar num estilo de consumo, comprando mais e mais, alimentando seus desejos, suas ansiedades, suas vaidades, sabendo que o que você calça, veste, usa, coloca no seu corpo, na sua casa, na sua pele, pode estar “carregado” de fome, de lágrimas, de exaustão de seus semelhantes a longas distâncias, lá no início, nas bases da produção?

Não é um apontamento para você que lê, mas um convite para nossa reflexão, pois eu também estou nesse caminho de busca de uma vida mais coerente com o que creio e desejo.

Mas, questiono, para refletirmos:

Somos o tipo de gente que vai seguir comprando, sem necessidades reais, com consciência dessas realidades socioambientais e de nossa unidade como seres humanos? Vale a pena participar de cadeias de produção tão perversas? Vale a pena alimentar nossos desejos e vaidades a todo custo?

Vale a pena trocar mais um celular sem necessidade? Mais um biquini ou chinelo para ter “um de cada cor e modelo”? Vale a pena ser tão consumista, contribuindo, mesmo que indiretamente, para a degradação ambiental e reforçando injustiças envolvendo outras espécies e seres humanos?

Alguém paga o preço dessa blusinha barata, dessa queima de estoque, dessa promoção.

Existe um custo que é pego por mãos de obra e pela natureza. Mesmo que exista muitas marcas e lojas, e, também, pesquisas, que investem em tecnologia para redução de impactos, ainda assim, é necessário mudarmos nossa mentalidade, para evoluirmos sempre mais como seres humanos.

É preciso, não somente, um “consumo consciente”, que é muito importante, mas, dar passos na direção da redução do consumo.

Não sejamos ingênuos com as propagandas da moda e com as inúmeras ofertas que chegam nos outdoors, nos celulares, oferecendo produtos e coisas que você nem precisa, fazendo parecer que precisa.

Se você muda seu estilo de vida e desperta para a consciência coletiva, libertando-se do consumismo, você será muito mais livre, mais humana, mais fraterna, mais justa e mais feliz, e vai despertar as pessoas ao seu redor para repensarem seus padrões de consumo.

Vamos recordar sempre da nossa responsabilidade de cuidar da terra, assumindo nosso papel para a manutenção e renovação da vida, considerando todos que aqui dividem conosco a existência, cada ser humano, onde ele estiver, cada espécie, toda a biodiversidade e os recursos naturais.

“…assumindo nosso papel para a manutenção e renovação da vida”

Pode parecer que é exagero e que você não tem nada a ver com isso, por apenas ser o consumidor final. Mas, sim, você faz parte da cadeia, é você que escolhe comprar, é sua escolha participar.

Repito: não são todas as marcas e lojas que estão envolvidas com tantas irregularidades. Acredito que a maioria não esteja ou, se foram, já se corrigiram.

O objetivo não é denunciar, não é apontar “quem é quem” no ramo da moda e da produção. O objetivo é convidar você a refletir sobre os impactos do consumismo, sobre o excesso, e alertar sobre nossa responsabilidade no processo, de escolher comprar ou não algo, e com que frequência.

O objetivo é melhorarmos como seres humanos, através da mudança da mentalidade e do estilo de vida, com mais reaproveitamento, menos excessos e desperdícios.

Mude para a mentalidade do reaproveitamento, da circulação, ao invés da mentalidade do descarte, do consumismo.

Pode parecer insignificante, pensar que “mas só eu? Não vai fazer diferença alguma”. Mas, isso não é verdade:

Sua postura é sua voz, é resistência, é sua resposta para esse modelo de produção, sua voz profética dizendo:

“Eu não compactuo com isso, eu me recuso a participar disso, eu vou resistir. Eu não posso, com meus valores, com minha humanidade, com minha consciência coletiva e fraterna, ajudar a reproduzir um sistema de consumismo que gera tantos impactos aos recursos naturais e aos meus semelhantes nos diversos contextos do mundo”.

Muito obrigada pela presença e pela leitura!

Texto de Patrícia Natália dos Santos de Carvalho – Blog Natureza da gente.

More Posts

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *